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"Vista à luz da evolução, a biologia é, talvez, intelectualmente a mais satisfatória e inspiradora ciência. Sem essa luz, torna-se uma pilha de fatos diversos – alguns deles interessantes ou curiosos, mas que não fazem uma descrição significativa do todo". Como já nos adiantava Theodosius Dobzhansky em “Nada em Biologia faz sentido se não à luz da evolução”, A Evolução Biológica é a linha invisível que percorre todo conhecimento sobre a vida e deve ser compreendido por todos que almejam conhecer verdadeiramente o mundo natural. Você pode ler o artigo completo em português (que só tem no Biologia em Pauta) clicando aqui. Essa leitura é bem bacana para entender a Evolução sob a perspectiva prática e filosófica dos seus mecanismos, além das controvérsias relacionadas ao embate com o pensamento religioso.
Ao que tudo indica, as primeiras formas de vida foram seres unicelulares, muito parecidos com algumas bactérias anaeróbicas atuais, que não necessitam de oxigênio para respirar e gerar energia. A concentração de oxigênio na atmosfera da Terra primitiva era extremamente baixo (0,01%), o que permitiu que se concentrassem compostos orgânicos nos oceanos sem que eles fossem oxidados. Estes compostos foram utilizados pelas primeiras formas de vida para gerar energia, provavelmente numa versão simplificada do processo de quimiossíntese (uma forma autotrófica um pouco parecida com a fotossíntese, mas em vez da luz e gás carbônico, outros compostos químicos diferentes são reduzidos para gerar energia para a célula).



Assim, o primeiro grande salto onde seres vivos modificaram substancialmente o ambiente foi o surgimento de bactérias fotossintetizantes, isto é, capazes de transformar a energia luminosa do sol em energia química passível de ser utilizada no seu metabolismo celular. A luz do sol é um recurso abundante na maior parte da superfície terrestre (excetuando-se os polos da terra e regiões abissais dos oceanos, por exemplo), mas a fotossíntese primitiva não era como a conhecemos hoje. Os processos bioquímicos das células vivas também são moldados pela evolução, isto é, passam por transformações ao longo do tempo e são selecionadas pelo ambiente. Diferente do processo que conhecemos atualmente, as primeiras bactérias fotossintetizantes utilizavam o Hidrogênio proveniente da quebra de moléculas de água (2H2O → O2 + 2H2).
Já o Oxigênio, produto tóxico do processo, era liberado e ficava dissolvido na água, posteriormente, difundindo-se também para a atmosfera. O oxigênio era, portanto, tóxico tanto para as primeiras bactérias fotossintetizantes quanto para as quimiossintetizantes já existentes. Pensando que as células quimiossintéticas devessem possuir ampla distribuição nos oceanos primitivos, onde a quantidade de compostos dissolvidos era enorme, o aumento de oxigênio atmosférico provocado pelo "boom" de bactérias fotossintetizantes provocou uma oxidação cada vez maior destes compostos, reduzindo sua disponibilidade e controlando a população das bactérias que dependiam destes. Esse momento geológico da terra que eu descrevi é conhecido como a revolução do oxigênio, que é bem visualmente perceptível pelo gráfico que eu deixo ao lado.

O oxigênio dissolvido na atmosfera passou dos 0,01% para os atuais 22%, provocando uma primeira grande extinção causada pela poluição por oxigênio liberado, que era tóxico à todas as formas de vida até então. Essa transformação permitiu, por outro lado, a evolução da respiração aeróbica que, bioquimicamente, pode ser até 15x mais eficiente na produção de energia do que a anaeróbica. Então, pensando na dialética da evolução, a maioria das espécies da terra primitiva não conseguiriam viver no ambiente atual, assim como a maioria das espécies vivas atuais não sobreviveriam na terra primitiva. O meio ambiente seleciona as espécies e as espécies modificam o ambiente. Esse é o processo constante, dialético e dinâmico que chamamos de Evolução.
Dialética da Evolução
Hoje vivemos uma extinção em massa provocada por um conjunto de fatores que são atribuídos à atividade humana: desmatamento (perda de habitat), caça, aquecimento global por intensificação de gases estufa oriundos de atividades produtivas, entre outras. Essa é uma característica fortemente ligada à era geológica atual: antropoceno.
A principal diferença é o agente causador: se antes, eventos naturais, hoje é atividade humana. O interessante é observar que a dialética evolutiva se impõe até mesmo nesse caso. Somos animais; primatas, mais especificamente. O homem moderno se derivou há cerca de 200 mil anos, no continente Africano, provavelmente na região da Etiópia. Nesse tempo, que é um suspiro para a o tempo evolutivo, nós realizamos modificações radicais na paisagem natural e isso selecionou adaptações e mudanças de comportamento nos animais e plantas nativas dessas respectivas regiões. Somos mais que uma força geológica, somos uma pressão seletiva. Isso tanto é verdade que certas espécies que se relacionam bem com a vida humana ou que tem uma 'utilidade para ela são reprodutivamente favorecidas em relação à outras. Os cães, gatos, pombos, capivaras, gado, etc. na aba de documentários, tem um episódio de "Planet Earth II" chamado Cities, que fala exatamente sobre isso! Clicando no link você poderá assisti-lo em HD.
Mas a Evolução Biológica não é só uma Teoria?
Existe uma confusão comum em relação a termos muito utilizados dentro da ciência, como Lei, Teoria, Hipótese, Fato científico, etc. Deixo um vídeo ao lado que explica estes termos. é bem interessante! Popularmente, "teoria" possui vários sentidos, como de "sugestão", "imaginação" ou algo que ainda não foi corroborado, mas na verdade, teoria científica significa um "conhecimento organizado sistematicamente, aplicável a uma ampla variedade de circunstâncias; em particular, um sistema de premissas, princípios, e regras de procedimento elaborados para analisar, prever, ou descrever a natureza ou comportamento de um determinado conjunto especificado de fenômenos". Parece bem mais complexo, não? E é mesmo. Simplificando um pouco a definição, Teoria Científica é um conhecimento elaborado a partir da constante reafirmação e generalização de hipóteses. Seria o mais alto grau de confirmação de uma ideia científica, como adianta o Pirula no vídeo.
As teorias, bem como o conhecimento científico no geral, não são irrefutáveis, nem produtoras de verdades absolutas, mas justamente uma das coisas que caracterizam a força de uma teoria é o grau de irrefutabilidade dela, segundo o filósofo da ciência Karl Popper. Assim, novos fatos observados que não são explicáveis pela teoria vigente a priori enfraquecem ela e o oposto também é verdadeiro. Vale ressaltar também que as teorias podem sofrer aperfeiçoamentos ou modificações, visto que é praticamente impossível que uma proposição seja tão absolutamente perfeita que explique com tanta precisão os fenômenos naturais no primeiro momento em que ela é pensada. Muitas vezes em vez de simplesmente elas serem descartadas, dependendo da nova evidência encontrada, são aperfeiçoadas para se aproximar da melhor explicação possível para os fatos observados. Foi o caso da teoria evolutiva proposta por Darwin. O conjunto de fatos científicos que suportam a teoria sintética da evolução que utilizamos atualmente é baseado em muitas ideias de Darwin, mas dada as limitações tecnológicas da época, ela tinha um alcance também limitado. Por isso, hoje temos um conjunto muito mais complexo, mais unificador e preciso, do que aquele inicialmente proposto por Charles Darwin.
Outro fato importante de entendermos sobre teorias científicas é que elas não precisam ser unificadoras e explicar necessariamente todos os fenômenos da Biologia, Física e Química, mas podem apresentar explicação para apenas fatos específicos. Para que uma teoria científica seja "desbancada", é necessário que existam evidências consistentes dentro dos moldes científicos para contrapô-la. Por isso muitas discussões entre Criacionistas e Evolucionistas são infrutíferas, visto que não há evidências científicas da existência de um Deus que crie ou tenha criado as espécies de seres vivos. A crença neste fator se dá por intermédio da fé, que possui uma forma diferente para considerar algo verdadeiro ou falso. A religião é uma forma de explicar fenômenos naturais também, mas passa por outros processos para se construir. Da mesma forma, não é comprovável cientificamente a inexistência de Deus, o que faz inconsistente o fato de tantos cientistas serem avessos à religião como se elas fossem, nas suas naturezas, inimigas. Encarar a ciência como religião é equivocado, e considerar como correto apenas e exclusivamente o que a ciência diz que é, também. Isto por que a ciência muitas vezes produz hipóteses descartadas, verdades temporárias e é limitada pela tecnologia para compreender o mundo. A ciência tem suas limitações éticas, tecnológicas e filosóficas. Por isso, não é capaz, e dificilmente um dia será, de explicar o mundo natural de forma absolutamente completa. A questão é que nunca saberemos o quanto não sabemos ainda.
Desde a Antiguidade até o final do século XIX, grande parte dos estudiosos acreditava que a prole pudesse herdar dos progenitores as modificações que eles sofressem durante sua vida. Essas modificações poderiam decorrer do uso e desuso de órgãos ou partes do corpo ou, até mesmo, em alguns casos, de mutilações. Esse tipo de fenômeno é chamado geralmente de “herança de caracteres adquiridos” ou “transmissão de caracteres adquiridos”. Concepções como essas estavam presentes na Antiguidade em tratados que integram o Corpus hippocraticum como, por exemplo, “Ar, ares e lugares” e em algumas obras de Aristóteles (384- 322 a. C.) sobre os seres vivos, como História dos animais e Geração dos animais.
Aristóteles considerava que os filhos podiam se parecer com os pais tanto em relação às características congênitas como em relação às características adquiridas, mas que havia poucos casos que confirmassem a herança de mutilações, como fala no Livro Geração dos