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Se evoluímos dos macacos, como macacos ainda existem?

Atualizado: 30 de abr. de 2020


Meu objetivo hoje é esclarecer, de uma forma objetiva, elencando um conjunto argumentativo sucinto, esse que é um questionamento recorrente sobre a evolução humana. Ela demonstra, na verdade, um conjunto de concepções erradas do que venha a ser a Evolução Biológica. A maior parte dessa crença é alimentada por aqueles que não "creem" na Teoria, seja por pressão de crenças religiosas, seja por mero conspiracionismo. Entretanto, a Evolução é uma das teorias mais estruturantes do conhecimento sobre a Vida e vem sendo alimentada de evidências e modelada há mais de 160 anos. Mais recentemente, com o avanço de técnicas na área da Genética, a Teoria da Evolução Biológica ganhou ainda mais endosso, o que aumentou sua força. Hoje em dia, aferindo o grau de semelhança genética entre espécies (viventes ou extintas), podemos esquematizar, com um bom grau de fiabilidade, as relações de parentesco e ancestralidade entre as espécies da Terra. Esses esquemas, chamamos de arvores filogenéticas (tem uma logo ali em baixo). Para fazer uma pergunta como a do título, o interlocutor deve acumular certo desconhecimento sobre Evolução, o que vamos tentar superar agora:

Primeiro, a evolução não é linear.

Você já deve ter visto essa imagem. Ela remete à noção equivocada de que a evolução é linear, onde uma espécie é substituída por outra, sendo aquela posterior, um tipo de transformação (melhora) da espécie anterior. Essa ideia é muito fraca pois, se para uma ser originada, a anterior precisar deixar de existir, só existiria uma espécie no planeta, certo? A não ser que você acredite que existam milhões de linhagens de espécies sendo substituídas pelos seus sucessores, o que seria algo muito absurdo para crer.

Bem, o arranjo mais próximo da realidade revela que a pergunta do título já traz um erro em si: o Homem moderno (Homo sapiens sapiens) não "veio do macaco", ele compartilha ancestral comum com primatas como os Chimpanzés. Brigo com esse termo "veio", por que ele remete muito mais aquela ideia que falei no início do texto, de que houve uma transmutação e um macaco virou um homem. De acordo com a Teoria da Evolução Biológica, toda espécie é oriunda/derivada de uma espécie já existente (veja os conceitos de Descendência Comum e Especiação). Entretanto, a espécie que deu origem a uma nova não precisa deixar de existir. Ela até pode deixar de existir, o que chamamos de anagênese, mas isso não necessariamente acontece. Na verdade, a espécie continuar viva (o que conhecemos como cladogênese) é perfeitamente possível de ocorrer pois um evento de especiação normalmente acontece a partir de apenas uma população da espécie e não a partir de todos os indivíduos da espécie. Se essa população acumular mudanças muito diferentes das mudanças de outras populações da mesma espécie, pode ser que daqui a um tempo essas populações não consigam mais se entre-cruzar. Se isso acontecer, denominamo-nas espécies diferentes.

Dizer que chimpanzés compartilham ancestral em comum com o gênero Homo, nesse caso, significa dizer que uma determinada espécie deu origem à duas espécies diferentes: uma que veio a se tornar os chipanzés e outra que veio a se tornar o Sahelanthropus tchadensis. Não se sabe exatamente a aparência desse ancestral, mas em A Origem das Espécies, Darwin observou que o ancestral comum extinto de duas formas vivas não deveria parecer necessariamente um intermediário perfeito entre elas. Em vez disso, poderia parecer mais um ramo ou outro ramo, ou algo completamente diferente, já que em verdade, isso depende das influências ambientais e as pressões seletivas.

Se voltássemos no tempo, há 5 milhões de anos atrás e achássemos um chimpanzé, é provável que ele não fosse exatamente como conhecemos. É provável que ele tivesse uma aparência diferente, assim como os primeiros Homo Sapiens não se parecem tão fielmente com os humanos modernos. Isso ocorre por que todos os organismos que estão vivos na Terra estão evoluindo. Nenhuma espécie parou de evoluir, com exceção das que estão extintas. Claro, existem espécies que respondem ao ambiente de forma mais acelerada, outras de forma mais lenta e isso depende de alguns fatores como: taxa de mutação, dispersão, grau de vicariância, tempo de vida médio dos indivíduos da espécie, etc. Quando ocorre um evento de especiação, isto é, uma espécie nova é gerada, a espécie ancestral (se continua viva) continua evoluindo e acumulando modificações.

Segundo, não há evidências de que há um "projetista".

Isso não quer dizer que não haja. Quer dizer que, pela perspectiva atualmente sustentada pelas evidências, a evolução é ao acaso, não direcionada. Se fosse direcionada, os organismos seriam constantemente "melhorados". Entretanto, a evolução não significa melhora, significa modificação. Não é atoa que uma das bases mais importantes do pensamento evolutivo é a descendência com modificação, que basicamente diz que os seus filhos não são cópias suas, mas alguém que carrega uma semelhança genética grande, entretanto, com algumas diferenças. Essas diferenças, acumuladas em centenas ou milhares de gerações, vão modificando características nas espécies. Bem, nós somos os únicos sobreviventes do gênero Homo. Todos os outros estão extintos, o que faz com que os nossos parentes mais próximos, viventes, sejam os chimpanzés. Por isso, devemos creditar a ausência de formas ainda mais parecidas conosco à extinção dos intermediários do gênero Homo, não à inexistência de parentesco entre nós e os primatas não-humanos. Homens modernos são primatas, mas também são mamíferos, também são vertebrados, também são animais. A ideia é que quanto mais abrangente for o grupo, menor será o acúmulo de características em comum entre os membros desse grupo. A verdade é que temos muito mais semelhanças do que diferenças com os nossos parentes primatas mais próximos (os chimpanzés): cerca de 98,8% do nosso DNA é idêntico. Se compararmos com o DNA do peixe-zebra (Danio rerio), a semelhança é de aprox. 70%. Se compararmos com o da mosca-da-fruta (Drosophilla melanogaster), a semelhança é de aprox. 60%. Comparado com um repolho (Brassica oleracea) a semelhança é de 40% com o genoma humano,

Evolução NÃO significa melhora, incremento ou substituição de genes "ruins" por genes "melhores". Se fosse assim, o fato dos seres humanos serem os únicos primatas sem rabo significaria que o gene para desenvolver o rabo foi dispensado ou sumiu no nosso cariótipo, certo? Mas não é isso que ocorre. Ainda temos o gene para construir o rabo, assim como todos os primatas, mas temos uma informação a mais, surgida no nosso grupo, para suprimir a formação do rabo. Então, no nosso desenvolvimento embriológico, um rabo começa a se formar, mas bem antes de terminar sua formação e ganhar funcionalidade, a informação para suprimi-lo é expressada e o desenvolvimento retroage. A única diferença, nesse sentido, para os outros primatas viventes é que eles não tem a informação de suprimir o rabo, seguindo com o desenvolvimento dessa estrutura normalmente. Se a evolução fosse pensada por uma mente superior, redundâncias como essas não deveriam existir. Na verdade essas redundâncias sugerem muito mais que a evolução é, na realidade, mais parecida como foi pensada por Darwin e seus sucessores: uma grande colcha de retalhos, onde características surgem pelo acaso, de forma aleatória, e são selecionadas pelo ambiente.

É por isso que teorias conspiracionistas como o Terraplanismo normalmente negam a Evolução Biológica. Eles são mais afeitos às crenças religiosas como o Design Inteligente, que creditam toda modificação das espécies à um projetista onipresente (uma forma mais moderna de se referir ao Deus, pra não parecer muito século 16) e que medem a idade da Terra de acordo com "evidências" bíblicas. Isso é, aqueles que negam a evolução biológica não o fazem dentro do escopo da ciência, pois isso demandaria demonstrar que as explicações dos Cientistas Naturais para os fenômenos não se aplicam ou não se demonstram, o que, sem dúvidas, daria muito trabalho. Eles, para crerem nesse conjunto de ideias, assumem que a Terra. por exemplo, possui cerca de 5 mil anos, baseados em passagens bíblicas, e assumem como premissa a existência de Deus, algo que a ciência -se bem feita- não pode fazer, já que se uma premissa não pode ser verificada, o conjunto de hipóteses e conclusões fica comprometido.



#EvoluçãoBiológica #CharlesDarwin #Genética #Taxonomia #Filogenética #Criacionismo #DesignInteligente

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