Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?
Atualizado: 25 de mai. de 2020
Se trata de um dilema que não é tão simples de responder. Por isso, se você for o engraçadinho da turma, provavelmente já deve ter feito essa pergunta para seu(sua) professor(a) de Ciências ou Biologia. Entretanto, essa pergunta tem várias saídas, as quais vou apresentar algumas aqui. Depende do tipo de raciocínio que você quer utilizar para responder:

PELA PERSPECTIVA CRIACIONISTA
Se você racionar pela lógica criacionista, a resposta é "a galinha", já que o(a) Criador(a), seja lá como se chame, teria gerado um casal de cada animal atualmente existente, adultos e férteis, num evento de gênesis. Esse casal copulou e deu início autorreprodutório à espécie. Então, para um cristão que se guie por esse raciocínio para responder, é bem fácil. Embora isso seja inviável sob o ponto de vista científico, dentro dos nossos conhecimentos já consolidados de genética, a base da crença religiosa é a fé, que não possui a mesma estrutura lógica do pensamento científico.
PELA PERSPECTIVA FILOSÓFICA
Esse dilema pode ser um exemplo da relação entre ato e potência, exposto pela metafísica de aristóteles. Segundo o conceito de potência, aristóteles entende que algo que existe não é somente ato, mas também potência, já que ele tende sempre a mudar. Por exemplo, uma criança não é somente uma criança no presente momento, como um adulto em potencial. Um ovo não é somente um ovo, mas uma galinha em potencial. Para Aristóteles, o ser em ato que produz o serem potência. Isto é, a criança que gera o adulto, já que o adulto (potência) só pode existir se houver a criança (ato). Para ele o ato é sempre anterior à potência. Ou seja, de acordo com Aristóteles a galinha veio antes do ovo, pois ela é em ato e o ovo é uma galinha apenas em potência (1).
PELA PERSPECTIVA EVOLUTIVA
Segundo Ernst Haeckel, em 1886, a "ontogenia recapitula a filogenia". Isso significa que, para esse autor, o desenvolvimento embrionário (ontogenia) de um organismo consistia na recapitulação, em estágios sucessivos, das formas adultas de espécies mais antigas. Como um bolo de camadas. Entretanto, hoje a nossa compreensão sobre a evolução é de que ela não é uma progressão linear em direção à formas mais complexas, mas simplesmente mudança através do tempo. Tem espécies que diminuem de tamanho ou se tornam menos complexas com o passar do tempo. Isso também é evolução. Desde que mudem, estão evoluindo. Sem essa de "pra melhor ou pra pior". Segundo a Biologia do Desenvolvimento moderna, as diferenças entre os adultos de espécies animais surgem em razão de modificações evolucionárias em seu "programa de desenvolvimento" (material genético). Ou sejam, modernamente sabemos que a filogenia ocorre através de mudanças na ontogenia. Exatamente o oposto que Haeckel pensou. Ou seja, quando se modifica geneticamente algo no desenvolvimento, surgem novas formas diferentes desse organismo. Vale lembrar, pra concluir, é que as mudanças evolutivas costumam ser muito lentas (em milhares e milhões de anos) e graduais. Então a galinha como conhecemos hoje nasceu de um ovo que uma galinha levemente diferente dela colocou. Esta mudança provavelmente ocorreu no DNA do embrião ou nas células germinativas dos genitores. Com isso, a galinha como conhecemos nasceu de um ovo onde ela já existia na forma como a vimos nascer, embora os genitores eram levemente diferentes dela. Um animal só pode nascer de um programa que ele possui. É impossível se desenvolver uma galinha diferente do que o seu programa genético de desenvolvimento defina. Ao mesmo tempo que é possível gerar gametas com modificações em relação ao seu próprio material genético. O ovo veio primeiro, portanto.
PELA PERSPECTIVA FILOGENÉTICA
Aqui, se você é o professor engraçadinho, tem a oportunidade de 'xoxar' o aluno engraçadinho. As galinhas não são as primeiras aves a existir. Antes delas, muitas outras existiram e, antes das aves, outros répteis também já colocavam ovos. Por conta disso, ovos já existiam muito antes de qualquer tipo de galinha pisar na Terra. O ovo primeiro, portanto.
Espero que esse post tenha te confundido ainda mais, já que o principal objetivo de um dilema é nos colocar em estado de reflexão e não gerar uma resposta unificada. Também fica claro como uma mesma pergunta pode possuir respostas igualmente válidas sob o ponto de vista lógico, dependendo somente das premissas que você utiliza para embasar sua conclusão!
REFERÊNCIAS:
DOS SANTOS, Maria Eduarda Bandeira Cardoso. A relação entre ato e potência na Metafísica de Aristóteles. Revista Húmus, v. 3, n. 7, 2013.